Como medimos e analisamos as ações das pessoas e a partir delas tiramos conclusões sobre o tamanho do amor que elas sentem por nós e pelos outros? Como julgamos a forma dos outros de demonstrar afeto a partir das nossas realidades e do nosso entendimento, que não é só nosso?
O nosso modelo/concepção do que é amor é parte do nosso processo, das nossas vivências e construções familiares e sociais. O que não quer dizer que seja melhor ou mais certa que as outras, e nem errada. Não é possível e, mesmo que fosse, não seria saudável querer que a outra (o) atenda aos requisitos da nossa métrica.
Achar que é possível perceber a intensidade do amor de alguém por meio de atos que correspondem com expectativas do que se entende como demonstração de amor é um equívoco, que faz mal para si e para os outros sob os quais recaem essas valorações e análises.
Reforçar aspectos positivos das ações das pessoas pode ser algo benéfico, que anima e incentiva a sua continuidade. Mas isso, em certa medida, pode gerar uma cobrança (interna e externa), uma necessidade de satisfazer os anseios dos outros, de estar sempre provando e reafirmando esse amor. O que pode ser cansativo e doloroso, e que pode levar a perda da espontaneidade, da autenticidade… a perda do “seu lugar” no mundo e a perda de si.
Por passar a enxergar que a sua forma de amar não é a mesma que a das pessoas a sua volta, podemos incorrer em pensamentos de que o nosso jeito de amar é errado, ou até mesmo de que o que sentimos não é amor, que não somos pessoas boas por causa disso. É preciso cuidado com a forma que nos comunicamos e somos comunicados acerca do amor. Isso porque, podemos transferir para a outra (o) por meio de uma simples conversa, aparentemente inofensiva (ou não), nossas ansiedades e limitações.
Viver em conjunto, estabelecer conexões, seja com amigos, colegas de trabalho ou familiares é um ato de compartilhamento de ideias, sentimentos e tantas outras coisas, por isso parece importante refletir sobre o fato de que não existe apenas uma forma de amar, de demonstrar afeto e de ser família.
Me parece que uma das grandes formas de se demonstrar amor é o autoconhecimento, a separação entre o que é “nosso” e o que é do “outro”, e no limite do que for possível buscar dialogar com o outro e encontrar pontos de encontro e buscar pensar sobre as diferenças.